domingo, 28 de junho de 2015

Jornalismo: a Imparcialidade, Veracidade e o Sensacionalismo

O Jornalismo e o processo de uma  produção de notícia.

Pedro Alves, tem 27 anos, é jornalista há seis anos formado pela Faculdade Sete de Setembro. Trabalhou quatro anos no Jornal O Povo, e trabalha há dois anos no Sistema Jangadeiro, no período tarde/noite. Pedro é editor e produtor de notícias da rádio Tribuna BandNews FM, de maneira resumida o jovem jornalista tem a função de coordenar a equipe, pautar e produzir conteúdo para rádio.
Na entrevista foi abordado questões sobre o fazer jornalístico, com base no que foi discutido e aprendido nas teorias do jornalismo. As perguntas foram feitas levando em conta o dia a dia de Pedro Alves na redação da rádio.

Sabemos que antes de uma notícia ser veiculada, seja na tv, rádio, internet ou impresso há uma filtragem do que vai virar notícia ou não. Como funciona essa escolha no seu dia a dia?
Acontece muitas coisas, o que chega pra gente de informação do que aconteceu na cidade, de propostas de pautas de assessorias, é um volume muito grande e obviamente tem que filtrar, nós temos que selecionar a nata da nata,aquilo que realmente está de acordo com a proposta editorial da rádio. Um critério muito importante é o interesse público, o que que tem a ver com dia a dia das pessoas, o que realmente vai importar e interferir na vida das pessoas.Não adianta  nós darmos uma notícia que está muito distante do imaginário das pessoas, e que não tem a ver com a realidade direta vivida pelo nosso público Nós tentamos ter um conteúdo de serviço para população, é daí que conseguimos filtrar. E nós temos nosso público alvo, que é de intermediário/alto, são aquelas pessoas que liga na rádio para consumir notícia.

Quanto a tão falada liberdade jornalística, você acredita que ela realmente existe? Ou essa liberdade é condicionada?
Os veículos que fazem jornalismo são as empresas, se nós formos analisar friamente, qual o objetivo das empresas? É lucro, é negócios, só isso ai mostra que o fundamento do que está sendo noticiado nas empresas de jornalismo é a partir do interesse da empresa. Lógico que procuramos o que tem relevância para população. Mas toda empresa tem o que chamamos de linha editorial, tem empresas que cobram mais determinado assuntos e outros não.

Quando entramos na faculdade de jornalismo o que mais aprendemos no início é a cerca da imparcialidade, um jornalista consegue ser 100% imparcial? Como você ver essa questão?
Ah eu não acredito naquela história de fazer um trabalho totalmente imparcial, porque a própria escolha de uma pauta, já é uma decisão sua, você já está dizendo que outra não vai ser feita. É um conceito meio utópico você achar que vai existir um jornalismo salvador da pátria. Também não podemos dizer que a imparcialidade não existe, nós vamos buscar ao máximo, todos os mecanismos formais que temos para atingir isso são rigorosamente cumpridos, e precisamos disso para termos uma informação de qualidade. Que ai eu volto a faculdade, que  é ouvir os dois ou mais lados de cada história, de dá o mesmo espaço pra cada. Colocar na matéria o interesse de todos os envolvidos. Faz parte da nossa realidade. Não dá pra ser totalmente imparcial, mas dá pra ter o equilíbrio, a palavra é essa equilíbrio. E o público percebe isso. É realmente uma questa de maturidade.

Outro assunto muito discutido em sala de aula é que o jornalismo tem um compromisso com a verdade, confirmar e checar tudo. Já aconteceram fatos como do O Povo, que publicou uma matéria e no outro dia foi descoberto que as fontes inventaram a história. Como  você se previne, como você  lhe dá a cerca desse compromisso?
A primeira coisa e a mais importante é que nós sempre procuramos as fontes oficiais. Qualquer informação que sai, nós checamos com os órgãos responsáveis. Numa redação de jornalismo correm muitos boatos, o que tem de pessoas espalhando boataria, principalmente na internet é muito grande. É o que chamamos de plantar notícia, é informações que parecem verdadeiras, e as pessoas/grupos lançam isso na internet com objetivo que algum órgão oficial de imprensa divulguem como se fosse verdade. Nós temos que se proteger o tempo todo, não divulgar boato. Nem tudo se resume em verdades ou mentiras, mas contar a história como ela é realmente.

Quanto ao apelo, a espetacularização, a corrida por audiência a qualquer custo, isso na tua opinião prejudica a qualidade da informação?
Acho que esse termo espetacularização é um termo que se refere a uma coisa que busca nas nossas notícias que é produzir uma notícia que tenha impacto, que gere emoção, ou que seja relevante para o dia a dia do nosso público. Isso é o que fideliza um público nos órgãos que produz a notícia. A notícia não pode ser algo “frio” ou “morto”. Óbvio que existe um limite, tem vários órgãos de imprensa que exageram, que contorcem a notícia, criando algo que não corresponde totalmente a realidade. A espetacularização é um exagero do órgão. Tem a ver também com o público que vai consumir a notícia. Programas policiais por exemplo, são assistidos normalmente por um publico de classes mais baixas, a dor, a morte e o sangue acabam sendo o espetáculo da notícia. É isso que atraem e prende o público alvo e os fideliza, gerando audiência. Mas concordo que esses programas acabam ferindo a ética e muitas vezes o bom senso.

A ética jornalística e os programas policiais.

Opinião de profissionais do jornalismo sobre programas policiais que usam da espetacularização.

 

A ética e jornalismo ainda andam juntos?

O jornalismo tem seu próprio código de ética definido. Mas muitos questionam se o “Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros” está realmente sendo cumprindo conforme deve ser.

           A Ética Jornalística é um conjunto de normas e procedimentos éticos que regem a atividade do jornalismo. Ela se refere à conduta desejável esperada do profissional no seu dia a dia de trabalho. Uma boa produção jornalística deve ser objetiva, imparcial, precisa e verdadeira. Algo em que o público possa depositar confiança. Mas até que ponto podemos buscar e divulgar informações sem deixarmos a ética de lado? 
Imediatismo é importante e exclusividade é um atrativo a mais. Com isso muitos jornalistas ultrapassam as regras éticas para serem os primeiros a dar a notícia. Mas e se for um boato? E se não ouvirmos o outro lado da história? Um erro jornalístico pode prejudicar muito a vida de um indivíduo.
O jornalista de hoje trabalha com ética? O que podemos fazer para combater a falta dela? O que podemos esperar do sensacionalismo? Estamos aqui com a Professora Vânia Tajra do curso de jornalismo da Faculdade 7 de setembro para responder algumas perguntas e conversar sobre o assunto.
        
Existe ética no jornalismo brasileiro? E como se aplica?
A transformação do jornalismo social para o jornalismo comercial acaba inibindo o processo ético em alguns jornalistas. Apesar disso, acredito que o caráter do profissional está aliado ao caráter do indivíduo e valores que são adquiridos, devem ser conservados. Se pensarmos assim, pessoas centradas em valores adquiridos ao longo do tempo acabam por construir matérias informativas e alicerçadas nos pilares da profissão, como verdade e a busca pela imparcialidade. A ética no jornalismo brasileiro depende então, do caráter pessoal de cada profissional. A aplicabilidade do processo ético se dá na forma de construção da notícia e na forma social de repassá-la.

Como é formar um jornalista nos dias de hoje com base na ética jornalística?
Como parte de um processo acadêmico, procuramos levar aos futuros profissionais da área, situações que mostram a realidade de um mercado. O capitalismo selvagem é uma realidade dentro dessa profissão e acaba induzindo e manipulando o aspecto social do jornalismo mostrando que a venda da notícia é um mercado promissor. O que procuramos dentro da formação acadêmica é mostrar lados positivos e negativos desse mercado, levando o futuro profissional a entender esses aspectos e refletir sobre eles. Prática e teoria entram em conflito diante dessa realidade e formar um profissional ético passou a ser um desafio.

Qual é o primeiro passo para ser ético no jornalismo? Como manter a imparcialidade em meio a propostas de empresas ou instituições com o intuito de manipular a situação a favor da mesma?
O primeiro  passo para ser ético no jornalismo é ouvir sempre dois lados numa mesma história. A busca pela imparcialidade é uma constante nessa profissão e precisa ser exercitada sempre. A melhor forma de manter a imparcialidade dentro de uma empresa que manipula a informação é utilizar o conhecimento como forma de argumentação. Uma pergunta bem fundamentada leva a respostas surpreendentes. Em casos específicos, vale invocar a Cláusula da Consciência, que protege o jornalista de situações duvidosas.

A ética e o sensacionalismo podem andar juntos?
Difícil conciliar os dois processos a partir do momento em que sensacionalismo passou a ser sinônimo de “impacto” e não mais de “sensacional”. Mas o aspecto cultural do receptor que temos hoje nos meios tradicionais e abertos, como a TV, é que de certa forma, dita as regras da informação no Brasil. A briga pela audiência, pelos números indicadores, rege a formatação da notícia e os acontecimentos chocantes ou impressionantes são mais observados e mais visualizados pelos receptores. Dessa forma, alguns autores, com Mário Erbolato, já colocam como características da notícia o “impacto”, a “aventura” e o “conflito”. São processos éticos e dependendo da intensidade na forma de veiculação podem ser caracterizados como sensacionalistas ou não.

Você acredita no jornalismo que é feito no nosso país?
Acreditar ou não depende das escolhas e do grau de percepção de cada indivíduo.  O olhar do jornalista na construção de uma nova informação deve ser um olhar que leve à formação de opinião pelo receptor. Por outro lado o receptor deve saber discernir o que recebe daquilo que percebe. Para avaliar se o jornalismo que temos hoje no Brasil é passível de credibilidade ou não, é preciso ter conhecimento ou várias visões sobre uma mesma informação.

E o que os futuros jornalistas podem fazer para mudar isso?
A melhor forma para mudar essa realidade seria a retomada da discussão pela regulamentação dos meios de comunicação tradicionais. A democratização dos meios levaria a uma maior variedade de pensamentos e automaticamente de programações diferenciadas. Dessa forma a informação seguiria os padrões técnicos e éticos inerentes do processo jornalístico.

Ética na prática jornalística

Luiz Henrique Souza Campos, 49 anos, é editor do caderno Opinião do Jornal O Povo onde está há 18 anos. Em 1994 formou - se em Jornalismo na Universidade Federal do Ceará em seguida começou a trabalhar no Diário do Nordeste, lá passou pelas editorias de Política e Cidades. Em 1999 foi para o jornal O Povo na editoria de Cotidiano. Na época cobriu muito a área de polícia, pois ele fazia parte de um grupo de repórteres com esse perfil mais investigativo, fechando o time de repórteres, Demitri Túlio Claudio Ribeiro.  
Esse grupo de repórteres, mais tarde, formou a editoria de Grandes Reportagens que, na época, tinham tempo de trabalhar com notícias que demandavam mais investigação e consequentemente, mais tempo. Ficaram conhecidos por cobrir casos de grande repercussão, como: O escândalo do corpo de bombeiros; O caso do estupro de uma aluna na UNIFOR– Universidade de Fortaleza; O documento BR, que foi uma série de reportagens sobre a exploração de crianças e adolescentes nas BR’s do Ceara; o assalto ao Banco Central de Fortaleza; e o caso de repercussão internacional da morte dos cinco turistas portugueses na Praia do Futuro. Essas investigações renderam alguns prêmios de repercussão nacional, o que também trouxe credibilidade ao Jornal O Povo, como o Prêmio Esso, prêmio Embratel e a menção honrosa Vladimir Herzog. Há três anos passou a ser Editor da editoria de Opinião.  

“O jornal impresso vai se diferenciar do futuro em dois quesitos: As grandes reportagens, por oferecer material de profundidade; e a opinião, pela diversidade de dar espaço há vários pontos de vista.”        
O que é ética para você?  
Ética é ter o bom senso no seu dia a dia. Não é uma forma de bolo que você decora e que garante que você nunca sairá dos trilhos. A palavra não surgiu de agora, e em cada período se viveu uma época histórica diferente. A nossa visão de ética hoje é muito diferente da visão de ética de antigamente. Por exemplo, na época da escravidão, para a sociedade era normal ter escravos, escravidão é um absurdo hoje. Isso não era visto pela sociedade como um comportamento antiético. Tudo depende do seu referencial, o nosso mudou porque a nossa época histórica também mudou. Prefiro me basear na questão do bom senso, esses conceitos pré-estabelecidos de ética, a meu ver, mais prende do que liberta.
E sobre a questão ética no jornalismo e na editoria de opinião?  
Varia de acordo com a sua visão de mundo. Eu fui de um tempo em que você não fazia denuncia sem ouvir o outro lado, e hoje você não precisa mais ouvir o outro lado para denunciar alguma coisa, é normal publicar notícias em grandes veículos sem ouvir o outro lado da história. A televisão faz muito isso, se errar errou. Isso é ético? Eu acho que não, mas eles dizem que se não sair na imprensa, à justiça não condena. Nós como jornalistas, hoje, somos obrigados a fazer o que os outros estão fazendo se não ficamos para traz, isso é ético? É ético quando a Polícia Federal vai fazer uma apreensão as 5 da manhã e a imprensa já está toda articulada? Como esse pessoal da Operação Lava-Jato, vocês acham que esses acusados não serão condenados? Se não forem condenados pela justiça, eles já estão condenados pela mídia e consequentemente pela sociedade. Nesses casos a imprensa sempre está correta, mesmo sem saber o porquê da condenação. Isso nos deixa com o papel de julgar, e é essa a nossa função? Não é isso que nos é ensinado nas faculdades, nas disciplinas de ética.  É preciso que se respeite o princípio básico da dignidade humana. Quando eu estava na editoria de Grandes Reportagens eu fiz várias entrevistas com acusados que já estavam condenados pela sociedade e pela mídia. Quando entrevistei o Militão, o mentor dos assassinatos dos turistas portugueses na Praia do Futuro estava com o Demitri e nós queríamos entender e falar sobre aquela pessoa e não sobre o monstro assassino. Também entrevistei, junto com o Cláudio, aquele juiz que matou um vigilante dentro de um supermercado em Sobral, ele já estava condenado pela mídia e nós sabíamos tudo que tinha ocorrido, mas queríamos saber o outro lado da história, porque isso é jornalismo.

Esses casos tem grande repercussão midiática geralmente porque são crimes hediondos e geralmente está bem claro quem é o culpado. Você não acha que pode ser visto como se vocês, repórteres, estivessem defendendo o acusado?  
Não, nesses casos fizemos o que todo jornalista deve fazer, saber os dois lados da história. Ao escrevermos essas matérias sempre usávamos a visão jornalística, contando os fatos, e não uma visão humanista. Queríamos entender o porquê do acontecido para traduzir ao leitor. Se isso fosse hoje nós seriamos acusados de estar defendendo um monstro, isso é o que me preocupa no futuro do jornalismo. 

O fato do jornalista às vezes se comportar como um juiz remete muito a espetacularização da notícia, desses programas policiais e de como isso vende. Qual o papel do jornalista nesse momento?  
O jornalista está sendo obrigado a espetacularizar a notícia. Fica difícil até saber onde está o limite entre jornalista e ator. Como você disse, é o que vende. Se eu não ajudar o meu jornal a vender, ele quebra. Enquanto deixo de publicar alguma coisa porque não consegui informações suficientes, como por exemplo, ouvir o outro lado, o meu concorrente vai publicar sem ouvir e aí? Então é difícil lidar com isso.

Você trabalhou muito tempo com investigação. Qual a sua opinião sobre o Jornalismo Investigativo, as câmeras escondidas, os microfones e as escutas telefônicas?  
Hoje não existe mais jornalismo investigativo, hoje existe jornalismo fitista. Tudo é escuta. Só pra esclarecer, escuta só pode ser feito sob autorização judicial e para determinada pessoa e para determinado assunto. Quando a polícia requer uma investigação dessa é para fazer parte de um processo, que é ou teria que ser sigiloso.

E como o jornalista tem esse furo?  
Pronto, uma questão ética. O jornalista tem interesse em publicar e usam, sempre, a premissa de que o que está sendo veiculado é para informar a sociedade, porque caso o contrário os responsáveis, usando como exemplo os casos de corrupção e crimes hediondos, não serão julgados e sairão impunes. Assim é feito muita coisa antiética mas que é visto com bons olhos pela sociedade. De certa forma a sociedade, ao aceitar esse tipo de comportamento, incentiva o jornalista a ser antiético.

Como falar sobre ética hoje no jornalismo?  
É como eu já falei, vai do bom senso de cada um, não apenas do jornalista, também do veículo que ele trabalha.

Já que o assunto é a Ética, qual a sua opinião sobre o Código de Ética dos Jornalistas?  
O Código de Ética é tão atrasado! Bom, o jornalista faz parte de um campo na sociedade que é o corporativismo. Toda categoria é corporativista. Então por mais que um jornalista cometa um erro, os outros vão sempre proteger lo. Instinto de sobrevivência. Até porque, a linha ética no nosso meio é tão tênue, que nunca se sabe quando o errado será você. Mas pra finalizar, nenhum código de ética é seguido por nenhuma categoria.

Para encerrar, você acha que os jornalistas hoje tem muita liberdade?  
Não tem resposta, porque nós jornalistas precisamos disso. Quando trabalhamos nas Reportagens Especiais, tínhamos muitos furos, muitos meios de conseguir. Às vezes, eu lembro, que o Diário ficava doido querendo saber como nós tínhamos conseguido tal “furo” e eles não. Não fomos antiéticos, fomos persistentes! Alimentamos as fontes, tivemos sorte e também ajuda muito quando o jornalista tem experiência. Para ser um bom jornalista hoje é preciso três coisas: Um texto razoável, persistência e sorte, não é qualquer um que tem a sorte de estar no momento certo na hora certa.

Jornalismo, jornalistas: a sensibilidade necessária

Em uma sociedade conservadora e acomodada, é dever do jornalista causar inquietação


Para Melquíades, a alteridade e o 
respeito são elementos fundamentais 
ao jornalista
(Foto: Joseanne Nery)
Formado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e em Jornalismo pela Faculdade Integrada do Ceará (FIC), o jornalista repórter especial do Diário do Nordeste, Melquíades Júnior, atua a mais de 12 anos na área e conquistou notoriedade no jornalismo cearense e nacional por suas reportagens especiais. Venceu em 2013, o Prêmio Jornalistas & Cia/HSBC de Imprensa e Sustentabilidade, com a série “Viúvas do Veneno”, no segmento Jornal, da categoria Mídia Nacional. A reportagem também foi finalista do Prêmio Esso, na categoria Ambiental, no mesmo ano. Em 2014 foi vencedor do internacional Prêmio SIP de Periodismo, na categoria Direitos Humanos, como co-autor da série “Excluídos – Indígenas, Quilombolas e Ciganos”. Outras de suas matérias foram “Parto dos Anjos” (2014), “Travessia da Cor – África e Identidade Negra” (2014) e “Índios do Ceará” (2013).
Em entrevista para a VF da disciplina Teorias de Jornalismo, ministrada pelo professor Ismar Capistrano, da Faculdade 7 de Setembro (FA7), Melquíades mostra as teorias aprendidas em sala de aula, na prática. Utilizando, principalmente, hipóteses como a Agenda Setting e Newsmaking, o jornalista conta sobre as mudanças no jornalismo, sua possível independência, exigência do diploma, utopia da imparcialidade e a multifuncionalidade do profissional, destacando o perfil ideal que os jornalistas devem possuir.

Para você, qual o poder do jornalismo na sociedade atual?
É um grande poder. Os meios de comunicação fazem o link entre as bases, é como se eles fossem um meio campo entre as pessoas que têm o direito e as instituições que têm o dever. O grande papel dos meios de comunicação é fazer essa ponte, essa conexão. Então, se você tem a responsabilidade de representar a voz ou as vozes do povo, já é um grande poder.

Em relação à banalização da violência e a questão do show business, eles estão transformando o jornalismo em entretenimento? O que você acha disso?
A própria banalização já faz parte do show business. Esse é um dos grandes problemas do mundo do jornalismo. Eu não diria que é algo tão novo, apenas existem outras formas fúteis de se fazer jornalismo que com o tempo vão apenas se transformando. Hoje e nos últimos dez ou quinze anos, o que temos de mais forte é a questão policial. Os programas policiais reforçam a violência, quando querem parecer que estão criticando, reforçam os estigmas, quando querem parecer que estão fazendo alguma justiça. A alegação é que as pessoas gostam disso, que atrai público, mas um dos grandes deveres dos meios de comunicação é oferecer outras opções para quem não conhece outros programas. A gente percebe no jornalismo local que se fala muito em sangue, bala, morte e isso se torna tão sério, porque o programa policial mais do que uma forma feia, ridícula ou errada de fazer jornalismo vai além, ele aborda a questão dos direitos humanos. É necessário fazer a conexão entre direito e dever de qualquer pessoa. Isso deve ser defendido, concretizado. Então, quando você utiliza um meio de comunicação para denegrir a imagem de alguém, independente se cometeu ou não um crime, ele tem que pagar pelo o que fez, mas não se deve abordar uma questão de cor, raça ou classe social, como esses programas fazem. Paralelamente, o jornalismo de entretenimento é mais do que necessário, é importante a sua existência. A pergunta é: isso deve ser prioridade quanto às outras questões também importantes no jornalismo?

A internet possibilita agora que a gente faça o jornalismo de forma mais independente, sem depender tanto das mídias tradicionais. Você concorda que o jornalismo está mais independente?
Sim, mas eu acho que o mais importante em relação à independência não é você fazer o que você quiser, é você saber escrever com responsabilidade e sem precisar ter um aparato ou estrutura de um grande meio de comunicação. A maior independência que se pode ter é a independência financeira, pois em qualquer meio você deve ter a responsabilidade de conduzir aquela escrita. Porém, eu concordo que a internet é um grande mecanismo de descentralização do poder da informação. Até a questão da autocensura, porque na internet você tem uma maior liberdade para pensar no que quiser falar, sem se preocupar com outras esferas, como acontece nas mídias tradicionais.

Ainda sobre a internet, você acredita ser diferente a maneira de contar notícias nas diferentes plataformas de comunicação?
A internet ainda é um processo de transformação. Existem algumas teorias, ainda não escritas, sobre a linguagem da internet e, em algumas delas, eu discordo. Cria-se uma noção, às vezes, que o leitor de internet quer ler apenas textos curtos e objetivos. Na internet, na maioria das vezes, pensa em quantidade, nos “cliques”, e não em qualidade. Isso é um tiro no pé, porque está deixando de entender que muitos de seus leitores são críticos e querem um material bom. Como se os leitores das diversas plataformas fossem completamente diferentes. Ao fazer isso, acaba-se perdendo a essência do jornalismo. Os meios de comunicação devem se preocupar com aquelas pessoas que estão lendo as matérias até o final. E aqueles que são atraídos até o final, não são aqueles que acharam o lide bonitinho. Um exemplo são blogs e textos de jornalistas longuíssimos que as pessoas os lêem na íntegra.

Quais são os critérios de noticiabilidade do Diário do Nordeste?
É complicado, porque eu não posso falar em nome do jornal, eu não tenho esse poder. Mas o que eu posso dizer é sobre os meus critérios de noticiabilidade, ou seja, das pautas que eu faço aqui, porque, ainda que seja a mesma empresa, cada pauta tem sua especificidade. Outra questão é o nosso poder de argumentação. Se o repórter souber argumentar bem sobre a sua pauta, tiver boas informações e angulações, isso já pode ajudar muito na proposta que por oferecida ele. É importante falar porque é relevante, porque aquilo vai afetar as pessoas.  Os meus critérios, quando vou produzir para o caderno de reportagem, tem a ver com as perspectivas maiores, os diversos ângulos de uma matéria, eu sempre busco o outro lado. Eu tento buscar os outros lados não só nas reportagens especiais, mas nas factuais também. Outro critério também é a inquietação. O que gerar inquietação pode resultar em uma matéria, como por exemplo, as injustiças sociais.

Quando à polêmica do diploma, você acha que é necessário ao jornalista? Por quê?
Acho que é necessário, mas não porque eu acho que você precisa ter diploma para ser jornalista. Se já temos um jornalismo de péssima qualidade, nós corremos o risco de ter um pior ainda se isso for mais aberto do que já é. Existem pessoas muito mais capacitadas que jornalistas diplomados, para fazer o jornalismo sério. Porém, na realidade em que vivemos, onde precisamos de um estudo para ter o mínimo de qualidade nas produções das notícias, há sim a necessidade do diploma. É importante porque é importante você estudar, ter um curso superior, mas ele não faz necessariamente “o jornalista”. Ele é apenas um dos vários elementos que deve formá-lo. O diploma não é medidor de qualidade. O que forma o jornalista é também a vida. Não adianta você passar quatro anos na faculdade, focado em escola, cinema, clube e televisão, mas estar completamente alheio as outras coisas do mundo. Porque quando se chega numa redação de jornal, você terá que conhecer muito além disso, ou seja, ter uma visão mais ampla do mundo.

Quais são esses outros elementos que formam o jornalista?
Formação humana. É algo que sempre está em construção. Tem haver com leitura não apenas de livros, mas na tentativa de ler o que está ao seu redor: os lugares, as pessoas, o desconhecido. A qualidade, a dimensão de uma entrevista, em uma matéria, depende do contato que o jornalista estabelece com a sua fonte. Isso vai ser bom ou ruim conforme a capacidade do profissional de dialogar com as pessoas e de ler o que elas estão comunicando. É a sensibilidade de mundo. Nossa profissão é feita basicamente do diálogo. Então é preciso saber ler o olho das pessoas, o seu silêncio. Calar quando necessário. Mais do que perguntar, o nosso dever é ouvir respostas. Não somos vozes, somos ouvidos. Quanto melhor ouvirmos, melhor conseguiremos falar depois disso. 

“É preciso saber ler o olho das pessoas. Mais do que perguntar, o nosso dever é ouvir respostas.”

Em suas matérias como repórter especial, como, por exemplo, “Parto dos Anjos”, você opta por dar destaque para as pessoas que, geralmente, não têm voz na mídia. Isso não seria parcialidade? Existe imparcialidade no jornalismo?

É sim uma parcialidade. O jornalismo 100% imparcial não existe. É uma utopia que não deve ser perseguida. O jornalismo deve ser isento, responsável, mas o nosso caminho não deve ser a imparcialidade, e sim a seriedade. São palavras que possuem conceitos diferentes. Em “Parto dos Anjos”, não é que eu ouvi “um lado”, eu ouvi “os lados”. É certo que predominou um, aquele lado que geralmente não é abordado. Mas um dos conceitos da justiça é o “desigual para os desiguais”. De alguma forma, você tenta compensar o fato de aquelas pessoas não terem voz alguma. Naquele momento elas finalmente têm voz. É deixar que o grito, que a dor dessas pessoas se manifeste. É hipocrisia dizermos que somos jornalistas imparciais. Somos sujeito e objeto de tudo aquilo que nós tratamos. Quando você escreve, você não deixa de ser você para ser outra pessoa. Você, antes de ser jornalista, é um ser humano.  Tem um pouco de nós nas matérias que fazemos. Eu me emociono com todas as matérias que eu faço. Acredito que, se eu consigo me emocionar, de alguma forma me coloquei no lugar do outro. Mais do que a imparcialidade, devemos perseguir também a alteridade.  

O Jornalismo imparcial nos dias atuais

Para o Jornalismo, o “Termo imparcialidade não existe mais”.

A atividade Jornalística não é independente nem submissa a linha editorial dos Jornais. Defensora de uma maior união entre os Jornalistas critica o sindicato por falta de dialogo entre o jornalista e a entidade. Para ela, a neutralidade é a que norteia a condução das noticias no que consiste a interferência sofrida pelo jornalista.
As afirmações são da nossa entrevistada, a Jornalista Alessandra Oliveira que é Professora universitária e coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade de Fortaleza (Unifor). Além de ter experiência de ter passado na redação do jornal O POVO por 2 anos ela também trabalhou em Organizações Não Governamentais (ONGS) como cata-vento e Cedeca.

Confira a entrevista:

O midiatismo na prática jornalística

Os alunos de jornalismo entrevistam a professora Kátia Patrocínio da Faculdade 7 de setembro.