sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

As articulações entre a militância e o profissionalismo na comunicação


Roger Pires é jornalista e um dos criadores do Coletivo Nigéria, uma iniciativa de mídia independente que tem como foco a produção de vídeo-documentários. O coletivo acredita num jornalismo engajado e imersivo, pautado principalmente por questões que afetam minorias, pouco discutidas e tratadas sem a profundidade merecida pelos grandes veículos de comunicação. 
Roger e os dois outros integrantes do grupo, Bruno Xavier e Yargo Gurjão, fazem de seu trabalho no Nigéria um misto de comunicação e militância, atuando em parceria com movimentos sociais, Ongs e pesquisadores. Atualmente, o coletivo se define também como uma produtora de vídeo, que realiza serviços de produção audiovisual para a web e outros meios.
Nessa entrevista, conversamos com Roger Pires sobre direito social à informação, rumos do jornalismo (e do jornalista), diversas questões ligadas à mídia independente e até sobre empreendedorismo na área da comunicação. Confira.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Desafios enfrentados por assessores de comunicação empresarial são tema do segundo dia do Semascom

Segundo dia do SEMASCOM contou com a presença de assessores que atuam na relação de empresas e artistas com a mídia.

O I Seminário de Assessoria de Comunicação (Semascom) teve continuidade nesta quarta-feira (1º), no Centro de Humanidades II da Universidade Federal do Ceará (UFC). A temática abordada na segunda noite de evento foi Assessoria Empresarial e a importância do trabalho dos jornalistas na comunicação de artistas e empresas.


O gerenciamento de situações de crise foi uma das questões abordadas por Lidiane Rodrigues, assessora de imprensa na agência Caramelo Comunicação. A partir de experiências pessoais, a jornalista relatou os principais desafios enfrentados no trabalho diário do assessor e pontuou aspectos fundamentais para uma assessoria corporativa.


“Manter-se atualizado, monitorar o conteúdo relacionado à empresa, planejar ações e criar uma rotina semanal de reunião de pauta” -- esses foram os pontos destacados pela profissional como fundamentais para um bom exercício do trabalho. Além disso, ela ressaltou que é indispensável por parte da assessoria criar e fortalecer um bom relacionamento com as editorias especializadas de cada jornal.


Airlly Barbosa, assessora de imprensa de eventos e artistas locais e nacionais na 7Tons Produções, falou da importância da criatividade no trabalho do assessor, uma vez que a demanda de e-mails diários enviados aos jornalistas de redação pode acabar tornando-se repetitiva. A jornalista alertou ainda para a cautela necessária com o que se escreve, para evitar equívocos nas informações. “Se você se ‘queimar’ com a imprensa e o cliente te deixar, isso vai ficar para sempre na sua carreira”, afirmou.


Finalizando as participações, Laura Bandeira -- assessora de imprensa e sócia-fundadora da Âncora Comunicação -- explicou que a rotina do assessor não é previsível, de forma que o profissional deve estar sempre disponível para o cliente. “Muitos estudantes pensam em seguir carreira em assessoria porque acham que ganharão mais. A verdade é que nós trabalhamos muito”, analisa.


A jornalista, que trabalha em casa, em regime de home office, sublinhou também que o distanciamento com o assessorado não existe. “Eu tenho uma relação muito próxima com meus clientes. Não de amizade, mas de diálogo, sempre”, contou.

A última noite do I Semascom será hoje (2), no auditório Rachel de Queiroz (Av. da Universidade, 2762 - Benfica), a partir das 18h, e abordará a Assessoria de Comunicação de Movimentos Sociais. O ponto central do debate, que será mediado pelo professor do Curso de Jornalismo da UFC Edgard Patrício serão as novas formas de comunicação na área.

Confira aqui as fotos do evento.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Relação entre órgãos públicos e veículos da mídia é destaque no primeiro dia do Semascom

Mais de 150 estudantes e profissionais da área participaram da discussão sobre Assessoria de Comunicação Política e Governamental.


A atuação de jornalistas responsáveis pela Comunicação de grandes órgãos governamentais foi tema da primeira noite do I Seminário de Assessoria de Comunicação da Universidade Federal do Ceará (Semascom). Mais de 150 estudantes e profissionais da área participaram da discussão sobre Assessoria de Comunicação Política e Governamental, na noite dessa terça-feira (31), no Centro de Humanidades II da UFC.


A importância crescente das mídias sociais no trabalho do assessor foi o principal assunto tratado por Moacir Maia, coordenador de Comunicação da Prefeitura de Fortaleza. O jornalista mostrou, a exemplo da atual experiência profissional, as principais possibilidades de produtos a serem desenvolvidos para comunicar em uma instituição, interna e externamente.

Raquel Maia, assessora de comunicação do Ministério Público Federal (MPF), chamou a atenção para a necessidade de clareza na relação entre entidades públicas e a população, destacando o assessor como um mediador e esclarecedor de informações e serviços. A profissional ressaltou ainda a visão ampla e compreensiva que um assessor deve ter em relação à rotina dos jornalistas de redações – e vice-e-versa. “Eu sou uma assessora melhor porque antes fui repórter. E, com certeza, seria uma repórter muito melhor depois de ter sido assessora”, analisou.

Encerrando os trabalhos, Cristiane Bonfim, responsável por assessorar um dos órgãos públicos mais importantes do Estado, a Secretaria da Saúde (Sesa), também enfatizou a importância de se cultivar boas relações entre repórter e assessor de imprensa. “Nosso papel é sempre repassar informações confiáveis, bem apuradas e organizadas, para os colegas de redação e para a sociedade em geral”, sintetizou.

O I Semascom continua hoje (1º), a partir das 18h, no Auditório Rachel de Queiroz (Av. da Universidade, 2762 - Benfica), com a mesa Assessoria de Comunicação Empresarial. O foco será a rotina dos profissionais que atuam em empresas privadas, eventos e no acompanhamento de personalidades.


Confira aqui e confira as fotos do evento.


domingo, 28 de junho de 2015

Jornalismo: a Imparcialidade, Veracidade e o Sensacionalismo

O Jornalismo e o processo de uma  produção de notícia.

Pedro Alves, tem 27 anos, é jornalista há seis anos formado pela Faculdade Sete de Setembro. Trabalhou quatro anos no Jornal O Povo, e trabalha há dois anos no Sistema Jangadeiro, no período tarde/noite. Pedro é editor e produtor de notícias da rádio Tribuna BandNews FM, de maneira resumida o jovem jornalista tem a função de coordenar a equipe, pautar e produzir conteúdo para rádio.
Na entrevista foi abordado questões sobre o fazer jornalístico, com base no que foi discutido e aprendido nas teorias do jornalismo. As perguntas foram feitas levando em conta o dia a dia de Pedro Alves na redação da rádio.

Sabemos que antes de uma notícia ser veiculada, seja na tv, rádio, internet ou impresso há uma filtragem do que vai virar notícia ou não. Como funciona essa escolha no seu dia a dia?
Acontece muitas coisas, o que chega pra gente de informação do que aconteceu na cidade, de propostas de pautas de assessorias, é um volume muito grande e obviamente tem que filtrar, nós temos que selecionar a nata da nata,aquilo que realmente está de acordo com a proposta editorial da rádio. Um critério muito importante é o interesse público, o que que tem a ver com dia a dia das pessoas, o que realmente vai importar e interferir na vida das pessoas.Não adianta  nós darmos uma notícia que está muito distante do imaginário das pessoas, e que não tem a ver com a realidade direta vivida pelo nosso público Nós tentamos ter um conteúdo de serviço para população, é daí que conseguimos filtrar. E nós temos nosso público alvo, que é de intermediário/alto, são aquelas pessoas que liga na rádio para consumir notícia.

Quanto a tão falada liberdade jornalística, você acredita que ela realmente existe? Ou essa liberdade é condicionada?
Os veículos que fazem jornalismo são as empresas, se nós formos analisar friamente, qual o objetivo das empresas? É lucro, é negócios, só isso ai mostra que o fundamento do que está sendo noticiado nas empresas de jornalismo é a partir do interesse da empresa. Lógico que procuramos o que tem relevância para população. Mas toda empresa tem o que chamamos de linha editorial, tem empresas que cobram mais determinado assuntos e outros não.

Quando entramos na faculdade de jornalismo o que mais aprendemos no início é a cerca da imparcialidade, um jornalista consegue ser 100% imparcial? Como você ver essa questão?
Ah eu não acredito naquela história de fazer um trabalho totalmente imparcial, porque a própria escolha de uma pauta, já é uma decisão sua, você já está dizendo que outra não vai ser feita. É um conceito meio utópico você achar que vai existir um jornalismo salvador da pátria. Também não podemos dizer que a imparcialidade não existe, nós vamos buscar ao máximo, todos os mecanismos formais que temos para atingir isso são rigorosamente cumpridos, e precisamos disso para termos uma informação de qualidade. Que ai eu volto a faculdade, que  é ouvir os dois ou mais lados de cada história, de dá o mesmo espaço pra cada. Colocar na matéria o interesse de todos os envolvidos. Faz parte da nossa realidade. Não dá pra ser totalmente imparcial, mas dá pra ter o equilíbrio, a palavra é essa equilíbrio. E o público percebe isso. É realmente uma questa de maturidade.

Outro assunto muito discutido em sala de aula é que o jornalismo tem um compromisso com a verdade, confirmar e checar tudo. Já aconteceram fatos como do O Povo, que publicou uma matéria e no outro dia foi descoberto que as fontes inventaram a história. Como  você se previne, como você  lhe dá a cerca desse compromisso?
A primeira coisa e a mais importante é que nós sempre procuramos as fontes oficiais. Qualquer informação que sai, nós checamos com os órgãos responsáveis. Numa redação de jornalismo correm muitos boatos, o que tem de pessoas espalhando boataria, principalmente na internet é muito grande. É o que chamamos de plantar notícia, é informações que parecem verdadeiras, e as pessoas/grupos lançam isso na internet com objetivo que algum órgão oficial de imprensa divulguem como se fosse verdade. Nós temos que se proteger o tempo todo, não divulgar boato. Nem tudo se resume em verdades ou mentiras, mas contar a história como ela é realmente.

Quanto ao apelo, a espetacularização, a corrida por audiência a qualquer custo, isso na tua opinião prejudica a qualidade da informação?
Acho que esse termo espetacularização é um termo que se refere a uma coisa que busca nas nossas notícias que é produzir uma notícia que tenha impacto, que gere emoção, ou que seja relevante para o dia a dia do nosso público. Isso é o que fideliza um público nos órgãos que produz a notícia. A notícia não pode ser algo “frio” ou “morto”. Óbvio que existe um limite, tem vários órgãos de imprensa que exageram, que contorcem a notícia, criando algo que não corresponde totalmente a realidade. A espetacularização é um exagero do órgão. Tem a ver também com o público que vai consumir a notícia. Programas policiais por exemplo, são assistidos normalmente por um publico de classes mais baixas, a dor, a morte e o sangue acabam sendo o espetáculo da notícia. É isso que atraem e prende o público alvo e os fideliza, gerando audiência. Mas concordo que esses programas acabam ferindo a ética e muitas vezes o bom senso.

A ética jornalística e os programas policiais.

Opinião de profissionais do jornalismo sobre programas policiais que usam da espetacularização.

 

A ética e jornalismo ainda andam juntos?

O jornalismo tem seu próprio código de ética definido. Mas muitos questionam se o “Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros” está realmente sendo cumprindo conforme deve ser.

           A Ética Jornalística é um conjunto de normas e procedimentos éticos que regem a atividade do jornalismo. Ela se refere à conduta desejável esperada do profissional no seu dia a dia de trabalho. Uma boa produção jornalística deve ser objetiva, imparcial, precisa e verdadeira. Algo em que o público possa depositar confiança. Mas até que ponto podemos buscar e divulgar informações sem deixarmos a ética de lado? 
Imediatismo é importante e exclusividade é um atrativo a mais. Com isso muitos jornalistas ultrapassam as regras éticas para serem os primeiros a dar a notícia. Mas e se for um boato? E se não ouvirmos o outro lado da história? Um erro jornalístico pode prejudicar muito a vida de um indivíduo.
O jornalista de hoje trabalha com ética? O que podemos fazer para combater a falta dela? O que podemos esperar do sensacionalismo? Estamos aqui com a Professora Vânia Tajra do curso de jornalismo da Faculdade 7 de setembro para responder algumas perguntas e conversar sobre o assunto.
        
Existe ética no jornalismo brasileiro? E como se aplica?
A transformação do jornalismo social para o jornalismo comercial acaba inibindo o processo ético em alguns jornalistas. Apesar disso, acredito que o caráter do profissional está aliado ao caráter do indivíduo e valores que são adquiridos, devem ser conservados. Se pensarmos assim, pessoas centradas em valores adquiridos ao longo do tempo acabam por construir matérias informativas e alicerçadas nos pilares da profissão, como verdade e a busca pela imparcialidade. A ética no jornalismo brasileiro depende então, do caráter pessoal de cada profissional. A aplicabilidade do processo ético se dá na forma de construção da notícia e na forma social de repassá-la.

Como é formar um jornalista nos dias de hoje com base na ética jornalística?
Como parte de um processo acadêmico, procuramos levar aos futuros profissionais da área, situações que mostram a realidade de um mercado. O capitalismo selvagem é uma realidade dentro dessa profissão e acaba induzindo e manipulando o aspecto social do jornalismo mostrando que a venda da notícia é um mercado promissor. O que procuramos dentro da formação acadêmica é mostrar lados positivos e negativos desse mercado, levando o futuro profissional a entender esses aspectos e refletir sobre eles. Prática e teoria entram em conflito diante dessa realidade e formar um profissional ético passou a ser um desafio.

Qual é o primeiro passo para ser ético no jornalismo? Como manter a imparcialidade em meio a propostas de empresas ou instituições com o intuito de manipular a situação a favor da mesma?
O primeiro  passo para ser ético no jornalismo é ouvir sempre dois lados numa mesma história. A busca pela imparcialidade é uma constante nessa profissão e precisa ser exercitada sempre. A melhor forma de manter a imparcialidade dentro de uma empresa que manipula a informação é utilizar o conhecimento como forma de argumentação. Uma pergunta bem fundamentada leva a respostas surpreendentes. Em casos específicos, vale invocar a Cláusula da Consciência, que protege o jornalista de situações duvidosas.

A ética e o sensacionalismo podem andar juntos?
Difícil conciliar os dois processos a partir do momento em que sensacionalismo passou a ser sinônimo de “impacto” e não mais de “sensacional”. Mas o aspecto cultural do receptor que temos hoje nos meios tradicionais e abertos, como a TV, é que de certa forma, dita as regras da informação no Brasil. A briga pela audiência, pelos números indicadores, rege a formatação da notícia e os acontecimentos chocantes ou impressionantes são mais observados e mais visualizados pelos receptores. Dessa forma, alguns autores, com Mário Erbolato, já colocam como características da notícia o “impacto”, a “aventura” e o “conflito”. São processos éticos e dependendo da intensidade na forma de veiculação podem ser caracterizados como sensacionalistas ou não.

Você acredita no jornalismo que é feito no nosso país?
Acreditar ou não depende das escolhas e do grau de percepção de cada indivíduo.  O olhar do jornalista na construção de uma nova informação deve ser um olhar que leve à formação de opinião pelo receptor. Por outro lado o receptor deve saber discernir o que recebe daquilo que percebe. Para avaliar se o jornalismo que temos hoje no Brasil é passível de credibilidade ou não, é preciso ter conhecimento ou várias visões sobre uma mesma informação.

E o que os futuros jornalistas podem fazer para mudar isso?
A melhor forma para mudar essa realidade seria a retomada da discussão pela regulamentação dos meios de comunicação tradicionais. A democratização dos meios levaria a uma maior variedade de pensamentos e automaticamente de programações diferenciadas. Dessa forma a informação seguiria os padrões técnicos e éticos inerentes do processo jornalístico.

Ética na prática jornalística

Luiz Henrique Souza Campos, 49 anos, é editor do caderno Opinião do Jornal O Povo onde está há 18 anos. Em 1994 formou - se em Jornalismo na Universidade Federal do Ceará em seguida começou a trabalhar no Diário do Nordeste, lá passou pelas editorias de Política e Cidades. Em 1999 foi para o jornal O Povo na editoria de Cotidiano. Na época cobriu muito a área de polícia, pois ele fazia parte de um grupo de repórteres com esse perfil mais investigativo, fechando o time de repórteres, Demitri Túlio Claudio Ribeiro.  
Esse grupo de repórteres, mais tarde, formou a editoria de Grandes Reportagens que, na época, tinham tempo de trabalhar com notícias que demandavam mais investigação e consequentemente, mais tempo. Ficaram conhecidos por cobrir casos de grande repercussão, como: O escândalo do corpo de bombeiros; O caso do estupro de uma aluna na UNIFOR– Universidade de Fortaleza; O documento BR, que foi uma série de reportagens sobre a exploração de crianças e adolescentes nas BR’s do Ceara; o assalto ao Banco Central de Fortaleza; e o caso de repercussão internacional da morte dos cinco turistas portugueses na Praia do Futuro. Essas investigações renderam alguns prêmios de repercussão nacional, o que também trouxe credibilidade ao Jornal O Povo, como o Prêmio Esso, prêmio Embratel e a menção honrosa Vladimir Herzog. Há três anos passou a ser Editor da editoria de Opinião.  

“O jornal impresso vai se diferenciar do futuro em dois quesitos: As grandes reportagens, por oferecer material de profundidade; e a opinião, pela diversidade de dar espaço há vários pontos de vista.”        
O que é ética para você?  
Ética é ter o bom senso no seu dia a dia. Não é uma forma de bolo que você decora e que garante que você nunca sairá dos trilhos. A palavra não surgiu de agora, e em cada período se viveu uma época histórica diferente. A nossa visão de ética hoje é muito diferente da visão de ética de antigamente. Por exemplo, na época da escravidão, para a sociedade era normal ter escravos, escravidão é um absurdo hoje. Isso não era visto pela sociedade como um comportamento antiético. Tudo depende do seu referencial, o nosso mudou porque a nossa época histórica também mudou. Prefiro me basear na questão do bom senso, esses conceitos pré-estabelecidos de ética, a meu ver, mais prende do que liberta.
E sobre a questão ética no jornalismo e na editoria de opinião?  
Varia de acordo com a sua visão de mundo. Eu fui de um tempo em que você não fazia denuncia sem ouvir o outro lado, e hoje você não precisa mais ouvir o outro lado para denunciar alguma coisa, é normal publicar notícias em grandes veículos sem ouvir o outro lado da história. A televisão faz muito isso, se errar errou. Isso é ético? Eu acho que não, mas eles dizem que se não sair na imprensa, à justiça não condena. Nós como jornalistas, hoje, somos obrigados a fazer o que os outros estão fazendo se não ficamos para traz, isso é ético? É ético quando a Polícia Federal vai fazer uma apreensão as 5 da manhã e a imprensa já está toda articulada? Como esse pessoal da Operação Lava-Jato, vocês acham que esses acusados não serão condenados? Se não forem condenados pela justiça, eles já estão condenados pela mídia e consequentemente pela sociedade. Nesses casos a imprensa sempre está correta, mesmo sem saber o porquê da condenação. Isso nos deixa com o papel de julgar, e é essa a nossa função? Não é isso que nos é ensinado nas faculdades, nas disciplinas de ética.  É preciso que se respeite o princípio básico da dignidade humana. Quando eu estava na editoria de Grandes Reportagens eu fiz várias entrevistas com acusados que já estavam condenados pela sociedade e pela mídia. Quando entrevistei o Militão, o mentor dos assassinatos dos turistas portugueses na Praia do Futuro estava com o Demitri e nós queríamos entender e falar sobre aquela pessoa e não sobre o monstro assassino. Também entrevistei, junto com o Cláudio, aquele juiz que matou um vigilante dentro de um supermercado em Sobral, ele já estava condenado pela mídia e nós sabíamos tudo que tinha ocorrido, mas queríamos saber o outro lado da história, porque isso é jornalismo.

Esses casos tem grande repercussão midiática geralmente porque são crimes hediondos e geralmente está bem claro quem é o culpado. Você não acha que pode ser visto como se vocês, repórteres, estivessem defendendo o acusado?  
Não, nesses casos fizemos o que todo jornalista deve fazer, saber os dois lados da história. Ao escrevermos essas matérias sempre usávamos a visão jornalística, contando os fatos, e não uma visão humanista. Queríamos entender o porquê do acontecido para traduzir ao leitor. Se isso fosse hoje nós seriamos acusados de estar defendendo um monstro, isso é o que me preocupa no futuro do jornalismo. 

O fato do jornalista às vezes se comportar como um juiz remete muito a espetacularização da notícia, desses programas policiais e de como isso vende. Qual o papel do jornalista nesse momento?  
O jornalista está sendo obrigado a espetacularizar a notícia. Fica difícil até saber onde está o limite entre jornalista e ator. Como você disse, é o que vende. Se eu não ajudar o meu jornal a vender, ele quebra. Enquanto deixo de publicar alguma coisa porque não consegui informações suficientes, como por exemplo, ouvir o outro lado, o meu concorrente vai publicar sem ouvir e aí? Então é difícil lidar com isso.

Você trabalhou muito tempo com investigação. Qual a sua opinião sobre o Jornalismo Investigativo, as câmeras escondidas, os microfones e as escutas telefônicas?  
Hoje não existe mais jornalismo investigativo, hoje existe jornalismo fitista. Tudo é escuta. Só pra esclarecer, escuta só pode ser feito sob autorização judicial e para determinada pessoa e para determinado assunto. Quando a polícia requer uma investigação dessa é para fazer parte de um processo, que é ou teria que ser sigiloso.

E como o jornalista tem esse furo?  
Pronto, uma questão ética. O jornalista tem interesse em publicar e usam, sempre, a premissa de que o que está sendo veiculado é para informar a sociedade, porque caso o contrário os responsáveis, usando como exemplo os casos de corrupção e crimes hediondos, não serão julgados e sairão impunes. Assim é feito muita coisa antiética mas que é visto com bons olhos pela sociedade. De certa forma a sociedade, ao aceitar esse tipo de comportamento, incentiva o jornalista a ser antiético.

Como falar sobre ética hoje no jornalismo?  
É como eu já falei, vai do bom senso de cada um, não apenas do jornalista, também do veículo que ele trabalha.

Já que o assunto é a Ética, qual a sua opinião sobre o Código de Ética dos Jornalistas?  
O Código de Ética é tão atrasado! Bom, o jornalista faz parte de um campo na sociedade que é o corporativismo. Toda categoria é corporativista. Então por mais que um jornalista cometa um erro, os outros vão sempre proteger lo. Instinto de sobrevivência. Até porque, a linha ética no nosso meio é tão tênue, que nunca se sabe quando o errado será você. Mas pra finalizar, nenhum código de ética é seguido por nenhuma categoria.

Para encerrar, você acha que os jornalistas hoje tem muita liberdade?  
Não tem resposta, porque nós jornalistas precisamos disso. Quando trabalhamos nas Reportagens Especiais, tínhamos muitos furos, muitos meios de conseguir. Às vezes, eu lembro, que o Diário ficava doido querendo saber como nós tínhamos conseguido tal “furo” e eles não. Não fomos antiéticos, fomos persistentes! Alimentamos as fontes, tivemos sorte e também ajuda muito quando o jornalista tem experiência. Para ser um bom jornalista hoje é preciso três coisas: Um texto razoável, persistência e sorte, não é qualquer um que tem a sorte de estar no momento certo na hora certa.